quarta-feira, junho 02, 2004

Contos & Contas:

"Fronteira

Eu, Felismino Pé de Chumbo, filho de minha mãe e de meu pai - que me deram este nome à falta de melhor - venho aqui, por este meio, fazer uma reclamação a todas as excelências que a lerem.

Ora bem. Um dia, indo eu passear para os lados de Espanha, reparo que a linha que divide este povo do nosso estava desaparecida. Pensei que talvez me tivesse enganado no caminho (porque a cabeça já não é o que era!), mas depois de quase 2 km percorridos nos meus dois pés de chumbo, resolvi regressar antes que me faltasse a energia para a volta. Ficar em Espanha não era plano que me agradasse...

No dia seguinte retomei a ventura um pouco mais a Sul. E não é que não dei com a linha outra vez?! De tão surpreso não me pude mexer!! Então sentei-me num pedregulho que por lá parava (que não sei se era português ou espanhol, e como ficou calado continuei sem saber).

Pensei, pensei, pensei... reflecti e, se não estou enganado, ainda pensei mais umas duas ou três vezes. Tomei uma decisão: ia apanhar a próxima carreira para a Espanha - tinha que saber o que era feito da linha! É que das duas uma! Ou Portugal tinha crescido ou a Espanha tinha-nos roubado terreno e, sem dar por isso, eu já era espanhol!

Perante o óbvio dramatismo da situação, corri (o mais que as minhas pernas, juntamente com o cajado, permitiam) até à paragem das carreiras. Assim foi. Comprei o bilhete e como ainda tinha uma hora antes da camioneta chegar, corri a casa para arranjar a merenda.

Fiquei um bocado enjoado da viagem com o embalo da estrada esburacada... mas não descurei a missão: fui sempre atento ao chão que corria disparado por baixo da camioneta.

Andei, andei, e estava quase a adormecer quando o Sr. Jaquim, o motorista, gritou: "Chegamos a Espanha!"

Apressei-me a olhar para a janela e não encontrei vestígios da linha... Como sabe que estamos em Espanha? "Atão Sô Felismino! Não vê a placa?" A placa vejo, mas onde está a linha? "Qual linha?!" A que divide Portugal de Espanha! "Mas essa não existe, Sô Felismino!"

E era bem verdade! A linha não existia! Até tentei desviar a terra ao pé da placa, mas nada, a linha tinha desaparecido!

Regressei desolado, a pensar o que ia fazer a respeito disto. Nos dias que se seguiram ainda tentei marcar o limite de Portugal onde achava que devia ser. Primeiro desenhando a linha com um pau velho, depois pintando-a com cal, depois ainda tentei construir um muro com tudo o que conseguia arranjar... mas não resultou! Por isso resolvi fazer esta reclamação!

Os Srs do Governo podiam ajudar, e agradeço a boa vontade de quem me quiser acompanhar na construção da linha. Já chamei a SIC, mas recusaram-se a cá vir... mas isto é para que saibam: A linha não existe!!"





domingo, maio 30, 2004

Aviso:

- Foi libertado, ontem, na estação de comboios de Braga, um livro... cuidem dele.